Enfim, chegamos na semana do maior evento esportivo anual dos Estados Unidos. Mesmo não acompanhando futebol americano, certamente todos nós já ouvimos falar sobre o Super Bowl, seja pelos sempre absurdos preços divulgados do minuto de publicidade, seja pelos grandes shows e estrelas que nele participam, ou seja propriamente por ser a final do esporte mais popular do país mais midiático do mundo. E, naturalmente, o mundo das apostas ferve, recebendo um fluxo descomunal de dinheiro.
Dentro da nossa cobertura da temporada, evidentemente que o grande momento não poderia ficar de fora! Então vamos à análise do Super Bowl 58, que acontecerá nesse domingo, dia 11 de fevereiro, em Las Vegas, entre os campeões de conferência Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers.
SAN FRANCISCO 49ERS @ KANSAS CITY CHIEFS
Revanche!
Essa aqui nem chega a ser surpreendente para quem acompanha mais de perto a NFL: a final entre as equipes é uma revanche para os 49ers. Logo no 1º SB de Mahomes, em apenas seu 3º ano na liga e 2º como titular, na temporada 2019-20, houve o encontro entre ambas as franquias, com os Chiefs levando a melhor por 31-20, de virada, que consumava o status de Patrick Mahomes como a nova cara da NFL. Essa é a 8ª vez que acontece um reencontro em SBs.
Sucesso amargo
Essa é a 3ª aparição em um Super Bowl nos últimos 15 anos dos 49ers. No entanto, nos dois anteriores, a equipe californiana fora derrotada, e em ambos os confrontos, de virada. Os anos 2010 para frente viram San Francisco retomar o status de equipe de 1ª linha na liga, posto que ficou muito mitigado nos anos 2000, mas, diferentemente da Era Montana/Young, sem a conversão desse sucesso em títulos de Super Bowl. Confiando na mística de Brock Purdy e de seu elenco estrelado, esse pode ser o ano em que o HEXA vem (você nunca ouviu essa frase na vida).
Legados em jogo
Embora seja um esporte coletivo, inevitavelmente os Quarterbacks figuram como os grandes nomes no futebol americano, sendo a posição que mais determina o destino das partidas. Entram em campo duas histórias extremamente distintas, mas com marcas significantes entre os “signal callers” desse SB 58. Para Mahomes, a vitória significaria o 3º anel para o fantástico produto de Texas Tech. Essa é a 4ª aparição em 5 anos dos Chiefs em SB, feito esse só ocorrido com o Buffalo Bills (a infame sequência de 4 derrotas seguidas de Jim Kelly entre 91 a 94). Os feitos de Tom Brady são absolutamente absurdos, mas uma vitória aqui poderia realisticamente colocar o atual MVP em rota para criar o legado necessário para contestar o posto de GOAT de Brady, algo que parecia utópico quando se aposentou. Quanto a Brock Purdy, a perspectiva é naturalmente menos extrema, mas ainda assim interessante: ele seria o Quarterback escolhido mais tarde no draft a vencer um Super Bowl, sendo literalmente a última escolha do draft de 2022, na 265ª escolha, o que superaria Brad Johnson, escolhido na 227ª. Purdy, inclusive, silenciosamente começa a criar um legado que, inevitavelmente, traça paralelos com Tom Brady também. Saído da escolha nº 199 em 2000, o sucesso imediato após a chance precoce de começar para um QB saído tão tardiamente é uma narrativa que sempre acompanhará Brady, que venceu 3 SBs em seus 4 primeiros anos como titular. Purdy já possui 2 finais de conferência em apenas 2 anos como titular, e vencer um SB em seu segundo ano lhe colocaria numa seleta lista que possui apenas 4 membros: Kurt Warner com os Rams em 1999; Brady com os Patriots em 2001; Ben Roethlisberger com os Steelers em 2006; e Russell Wilson em 2014.
Perspectivas para o jogo
Prever o comportamento de equipes em finais é sempre um desafio. Ao passo que, no fim do dia, trata-se de um esporte e os conceitos estatísticos e analíticos de cada equipe acabarão sendo relevantes, o fator emocional e psicológico invariavelmente afetam o desempenho. O que nós temos aqui é claramente um favorito no aspecto técnico no San Francisco 49ers, mas um time extremamente experiente e habituado com essa situação nos Chiefs, além de ter o melhor e mais decisivo jogador em campo – ou melhor, da liga. É um dos debates mais clássicos em finais: ganha o melhor time ou o time que tem o jogador mais decisivo? Não existe uma resposta certa. Enfim, vamos dissecar um pouco os matchups.
Jogo terrestre: Os 49ers foram o 3º melhor ataque em jardas terrestres da temporada, com 139.7y por jogo em média, natural para o time que possui o melhor corredor da liga em Christian McCaffrey. Já os Chiefs ficaram bem no meio, em 18º lugar, com 108.3y por jogo. A equipe utiliza um grupo diversificado, mas liderado pelo intenso Isaiah Pacheco, que corre com uma entrega como se não houvesse um amanhã. Em relação as defesas terrestres, a situação é muito semelhante: Niners com a 5ª melhor da liga, Chiefs com a 17ª. Com esses dados, é evidente que a vantagem aqui pende aos californianos.
Jogo aéreo: Nesse segmento, diferentemente dos outros, cabe uma análise mais contextual: a temporada de 2023 viu um desempenho estatisticamente superior de Brock Purdy a Mahomes, mas nem a mãe do Purdy ousaria dizer que o seu filho é um QB melhor. A produção aérea deriva de diversos fatores que vão desde a qualidade natural do QB e de seus recebedores até aspectos táticos envolvendo a qualidade de análises dos play callers nas chamadas, assim como nos ajustes feitos pré-snap. Fica o apêndice de que existe uma diferença significativa na qualidade do grupo dos 49ers em relação ao dos Chiefs. Ao passo que San Francisco possui uma dupla excelente de WRs em Deebo Samuel e Brandon Aiyuk, um TE excepcional em George Kittle e talvez o melhor RB recebendo passes da NFL em Christian McCaffrey, os Chiefs terão que confiar na conexão dominante entre Mahomes e Travis “Swift” Kelce, tentando variar jogadas com o seu grupo frustrante de receivers, salvo o calouro Rasheed Rice, claramente o único do bando que possui um nível decente de jogo, mas que é, para todos os efeitos, ainda um calouro. Aqui, é inevitável apontarmos a vantagem para os Niners, mas é também onde mora o grande trunfo dos Chiefs: a diferença de qualidade entre os QBs reflete em efeitos exponenciais nas chances de você vencer – a posição é determinante assim mesmo.
Defesas: Podemos separar os desempenhos defensivos em aspectos como produção cedida contra o passe e corrida, turnovers gerados, sacks conquistados. Esses dados naturalmente, em conjunto, apontam uma imagem global dos times. No caso, estamos falando da 2ª e da 3ª melhores defesas da NFL em pontos cedidos, com uma leve vantagem aos atuais campeões. Em termos de turnovers gerados, todavia, a defesa dos Chiefs gera poucos por partida, ao contrário da de San Francisco, apesar de ser a 2ª que mais fez sacks na liga. Podemos “esquentar” a cabeça tentando achar tendências aqui, mas a verdade é que são duas defesas muito fortes, cada uma numa pegada distinta, mas que é difícil traçar um paralelo para dizermos que é a melhor. O que é certo é que os principais aspectos ofensivos de cada equipe encontram cenários favoráveis: a secundária dos Niners é o ponto fraco, algo temerário quando se enfrenta o melhor QB da NFL – a defesa contra a corrida dos Chiefs é medíocre, algo preocupante enfrentando o melhor RB da liga.
Aspectos finais: no papel e até no desempenho global, os 49ers são uma equipe superior e, por isso, naturalmente figurarão como favoritos nas casas de aposta. Todavia, os Chiefs mostraram uma capacidade, frieza e foco distintos na pós-temporada em relação à temporada regular. O jogo é completamente diferente em pós-temporada, e Kansas definitivamente mostrou a todos que está aclimatada a isso e que é a equipe que melhor sabe lidar com a pressão nessas circunstâncias, um valor de cunho emocional que possui um imenso valor para um Super Bowl, ainda mais estando numa posição de “azarões” (o que é um sofismo a se aplicar a um atual campeão, com o melhor QB, num back-to-back na final). Já os Niners tiveram que buscar duas viradas sofridas em seus dois jogos, nos quais figuravam com um favoritismo bem grande previamente. Embora alguém possa arguir que isso mostra um poder de reação forte e isso tenha seu valor em pós-temporada, isso também é um indicativo duma tendência, talvez, a demorar para encontrar o melhor ritmo de jogo, o que pode ser fatal contra um QB da estirpe de Mahomes. O desempenho dos Niners nos POs mostrou sinais de alerta que preocupam. O Super Bowl é um jogo só, e um jogo que deve ser visto isoladamente, mas eu vejo essas situações mais como aspectos negativos do que positivos como antecedentes. Coisas que um aspecto não material, como experiência, podem decidir. Portanto, os Niners possuem de fato um favoritismo aqui, mas eu ficaria muito surpreso que possam vencer o jogo se cometerem os vacilos que cometeram previamente, porque é muito improvável que Mahomes não traga mais uma performance de alto nível.
Odds GA: 1,81 x 2,22
Odds Bet365: 1,76 x 2,10
Obs: o mando é neutro, mas, simbolicamente, o vencedor da AFC é o “mandante” dessa vez (para fins de coin toss e uniforme). Logo, a coluna da direita se refere aos Chiefs.
Assita ao nossa análise completa no vídeo abaixo!