Em fevereiro, publicamos um artigo analisando os resultados de apostar nos handicap asiáticos ofertados como linha principal nos eventos continentais de seleções. Na época, foram observadas as Copas da Ásia e das Nações Africanas, e os resultados foram excelentes, sobretudo na fase de grupos! Será que nas competições envolvendo os dois continentes mais fortes do futebol os resultados seguirão essa lógica?
Antes de irmos aos números, vale um lembrete dos critérios adotados:
- Linha mínima de AH +0,25 com odd mínima de 1,800;
- A entrada deveria ser feita o mais cedo possível, vários dias antes do jogo;
- As entradas deveriam seguir o mesmo padrão de stake;
- Separar entradas em fase de grupo e fase mata-mata.
Enfim, seguem os dados coletados:
EUROCOPA
A Eurocopa retornou um ótimo desempenho! A fase de grupos foi bem lucrativa e o mata-mata teve um leve lucro, já que muitos jogam foram decididos na prorrogação ou pênaltis. Para quem acompanhou a competição no todo, notou que o desempenho das “zebras” foi ótimo, enquanto as favoritas, com exceção da Espanha, tiveram grandes dificuldades em impor seu futebol, resultando em placares bem distintos do que o senso comum apontaria. Todos esses fatores não apenas favoreceram no sucesso das linhas AH+, mas também vão em sentido da nossa crença de que existe uma expectativa exagerada na prática de um futebol dominante. É bem verdade que, no fim, restaram apenas seleções campeãs e consideradas no grupo de favoritas. No entanto, é nítida que a diferença dos times hoje é muito mais percebida na existência de um ou dois jogadores que conseguem decidir partidas em lances críticos, e não mais numa imposição absoluta, como era o padrão há não muito tempo. E a tendência daqui para frente, com a evolução física e tática em países outrora inferiores, é que os jogos fiquem cada vez mais parelhos e as diferenças se atenuem ainda mais. Quanto aos resultados numéricos:
Ao todo foram feitas 41 entradas de 1u, com um retorno líquido de 6,957u de lucro, num excelente ROI de 16,96%.
Dessas entradas, foram 32 na fase de grupos, com 6,82u de lucro, num incrível ROI de 21,3%, conforme os dados coletados abaixo:
A fase mata-mata teve apenas 9 dos 16 jogos habilitados nos critérios, retornando num lucro de 0,227u, com um honesto ROI de 2,5%, como se segue:
Copa América
Diferentemente de todas as outras competições analisadas, a Copa América teve retornos negativos. Embora tenham havido sua cota de zebras (com o Brasil sendo um grande colaborador), os favoritos em geral conseguiram vencer suas linhas, gerando em poucos AH+ bem sucedidos decorrentes das linhas mais esticadas. Podemos dizer que o resultado aqui passa muito pela heterogeneidade evidente entre as equipes da competição. O futebol na Copa América não tem fases classificatórias prévias, o que não filtra as equipes participantes. Nessa edição, tivemos a participação de equipes da Concacaf, as quais foram integradas pela Nations League (um torneio recente, fundado em 2019, que serve como seletiva para a Copa Ouro, principal torneio da Confederação, e que, nessa edição integrada em parceria com a Conmebol, acabou tendo efeitos às vagas da Copa América 2024). De qualquer forma, as equipes norte-americanas classificadas foram aquelas que já dominam o cenário local, haja vista a gigantesca discrepância entre elas e as demais seleções filiadas. Enfim, com a exceção do Brasil (e talvez dos EUA), todas as seleções mais fortes do torneio venceram seus jogos sem muito mistério, em jogos desbalanceados, marcados por uma falta global de competividade. Apostar em AH+ não funciona especialmente quando a zebra não oferece em regra condições reais de atuar num nível competitivo, e temos que parabenizar ao oddmaker da competição por, em geral, cotar bem essa diferença com linhas que, embora esticadas, não estavam exageradas. Curiosamente, o resultado na fase mata-mata foi positivo, talvez em razão de confrontos mais equilibrados nessa etapa em comparação com os vistos na fase de grupos. Enfim, vamos aos números:
Ao todo, foram feitas 28 entradas de 1u, com um retorno líquido de -4,001u de prejuízo, num ROI de -14,28%.
Na fase de grupos, foram 22 entradas e -5,03u de prejuízo, num ROI de -22,86%, como se segue abaixo:
Já na fase mata-mata, apenas 6 entradas, com 1,0285u de lucro, um ROI de 17,1%. Foram os jogos a seguir:
Conclusões
Com o término da Copa América e da Eurocopa em 14 de julho, terminamos também de catalogar os dados disponíveis desse ano. Os resultados finais foram:
Fase de grupos: 122 entradas de 1u, com lucro de 13,70u, num ROI de 11,22%;
Fase de mata-mata: 42 entradas de 1u , com prejuízo de -0,26u, num ROI de -0,6%.
Resultado global: 164 entradas de 1u, com lucro de 13,44u, num ROI de 8,19%.
Para quem é familiarizado com apostas em casas asiáticas, um desempenho em qualquer mercado com ROI de 8% é considerado sensacional. É surpreendente, ainda, que isso seja obtido usando de critérios tão simplistas e sem estudo nas entradas, como os adotados nesse levantamento. Embora, como dito na 1ª parte, em fevereiro, o volume de dados coletados teoricamente é insuficiente para conclusões absolutas, a natureza desses eventos esportivos é duma esporadicidade baixa e poucos jogos, o que, por si só, limita o universo de dados a um volume baixo. Ainda assim, com 164 entradas realizadas, não podemos dizer também que é um montante desprezível.
Por fim, as considerações feitas sobre os dados analisados apontam para as seguintes conclusões:
- As fases de grupo aparentam sofrer de maiores influências externas na cotação do que as fases de mata-mata, o que é benéfico para a orientação do tipo de entrada realizada no estudo;
- Competições mais niveladas tiveram resultados melhores, no geral;
- Apesar do resultado negativo, 3 dos 4 campeonatos analisados tiveram retornos positivos no mata-mata. Isso também foi percebido na fase de grupos;
- Os resultados foram especialmente ruins em linhas no intervalo entre +1,5 a +2,25. +0,25 também apresentou um leve prejuízo. Todas as demais linhas tiveram resultados lucrativos, em especial entre aquelas no intervalo de +0,5 a +1,25.
Enfim, esperamos que tenham gostado de acompanhar conosco esse estudo. Embora seja algo proveitoso muito esporadicamente, novamente vemos uma tendência lucrativa significativa nesse tipo de evento, confirmando, ao menos a princípio, que se trata de um fenômeno comportamental repetitivo dentro do mercado de apostas.